ROUPA POMBOGIRA 7 FACADAS
ROUPA POMBOGIRA 7 FACADAS
De beleza exuberante e inteligência rara, Elisa se achava uma mulher sem sorte. Vivia infeliz: todos que a cercavam, todos a quem amava pareciam sofrer com ela. Uma maldição, pensava ela. Casada, logo o marido passou a se servir de putas, embora amasse e desejasse a mulher, que só penetrou uma vez, na primeira noite. Apesar de seu tremendo desejo por Elisa, só alcançava a ereção com outras. Ela sofria pelas dores do marido. Ele a acusava de rejeitá-lo e batia nela.
No começo, nem tudo era
sofrimento. Daquela única vez nasceu Vitória. A menina cresceu bonita e
saudável até os sete anos. Depois começou a definhar. “É a maldição!”, Elisa se
culpava. O marido se enterrou de vez nos puteiros, ia chorar sua desventura no
colo das putas. Todas as especialidades médicas foram consultadas, todas as
promessas foram pagas, todas as rezas foram rezadas.
Consultados médiuns e
videntes, cartomantes e benzedeiras, padres, pastores e profetas, nada. A saúde
da menina decaía dia a dia. Até que Elisa foi bater à porta de mãe Júlia,
famosa mãe-de-santo. “Você nasceu com a beleza de Oxum e a majestade de Xangô,
mas seu coração é de pombo gira”, disse-lhe a mãe-de-santo, depois de consultar
os búzios.
A vida recatada de Elisa, seu
senso de pudor, sua modéstia, a repressão de costumes que ela mesma se impunha,
a falta de interesse pelo sexo, tudo isso negava os sentimentos de seu coração,
contrariava sua natureza. A cura, a redenção dela e dos seus, tinha uma só
receita: libertar seu coração, deixar sua pombo gira viver. Foi a sentença da
mãe-de-santo.
Leve e livre.
Ali mesmo, naquele dia e
hora, sem saber como nem por quê, Elisa se deixou possuir por três homens que,
no terreiro, tocavam os atabaques. O prazer foi imenso. Sentiu-se leve e livre
pela primeira vez na vida.
Pensando na filha, voltou
correndo para casa e encontrou a menina melhor, muito melhor: corria
sorridente, pedia comida, queria brincar.
No dia seguinte, Elisa voltou
ao terreiro. “Seu caminho é longo ainda”, mãe Júlia disse. Depois a abençoou e
se despediu. Um dos homens com quem se deitara no dia anterior lhe deu um
endereço no centro da cidade, um local de meretrício, que Elisa começou a
freqüentar. Passava as tardes lá, enquanto o marido trabalhava. Voltava para
casa mais feliz e esperançosa, a menina melhorava a olhos vistos.
Para preservar a honra do
marido, Elisa se vestia de cigana, cobrindo o rosto com um véu. O mistério
tornava tudo mais excitante. A clientela crescia. O marido soube da nova
prostituta e quis experimentar. Na cama com a Cigana, o prazer foi
surpreendente, muito maior do que sentira com Elisa e que nunca fora superado
com outra mulher. Seria escravo da Cigana se ela assim o desejasse. Mas a
Cigana nunca mais quis recebê-lo.
A insistência dele foi
inútil. “Um dia te mato na porta do cabaré”, ele a ameaçou, ressentido e
enciumado. Ela se manteve irredutível.
Num entardecer de inverno,
ele esperou pela Cigana na porta do puteiro e, na penumbra, lhe deu sete
facadas. Assustado, olhou o corpo ensangüentado da morta estirado no chão e
reconheceu, no piscar do néon do cabaré, o rosto desvelado de Elisa. Um enfarto
o matou ali mesmo.
Longe dali, no terreiro de
mãe Júlia, o ritmo dos tambores era arrebatador. As filhas-de-santo giravam na
roda, esperando a incorporação de suas entidades.
Na gira, exus e pombo giras
eram chamados. Os clientes, que lotavam a platéia, esperavam sua vez de falar
de seus problemas e resolver suas causas. As entidades foram chegando, e o
ambiente se encheu de gargalhadas e gestos obscenos. O ar cheirava a suor,
perfume barato, fumaça de tabaco, cachaça e cerveja. A força invisível da magia
ia se tornando mais espessa, quase podia ser tocada.
Cada entidade manifestada no
transe se identificava cantando seu ponto. De repente, uma filha-de-santo
iniciante, e que nunca entrara em transe, incorporou uma pombo gira.
Com atrevimento ela se
aproximou dos atabaques e cantou o seu ponto, que até então ninguém ali ouvira:
“Você disse que me matava
na porta do cabaré
Me deu sete facadas
mas nenhuma me acertou
Sou Pombo gira Cigana
aquela que você amou
Cigana das Sete Facadas
aquela que te matou”.
Mãe Júlia correu para receber
a pombo gira, abraçou-a e lhe ofereceu uma taça de champanhe. “Seja bem-vinda,
minha senhora. Seu coração foi libertado”, disse a mãe-de-santo, se curvando.
Pombo gira Cigana das Sete
Facadas retribuiu o cumprimento e, gargalhando, se pôs a dançar no centro do
salão.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB0VGUZLAtQe694Qgo7LC2sVj6NWNABl9m_FVvft4dxjXATpidtmly9fhJ4uaOdW7B0mHjlxDrHVBsu7RDdl6szEpfKU3YJD1CPOQhoBVJjN1RniwNvRUm8Ly4mJMu06QpARARo1mCgCI/s320/20170525_103027.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibZO5ZZQXbNWqY2PhT5TUSnvLAsmyvLpPStABwp2qh1PtOyjvkXblU8BK2gax2Bogj_HAvVw3tfVS4mdLcOg6V59kh30Aml3w5coaUYewVLG46ArFvD55Xa6Ig6N1gdUnqjdx1Y6h3aKw/s320/20170525_102748.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ5rD9Wu2ZAX7jf7DxxXGU0sIFKVuAJJeLXIcgtzJLFr04XzBrIGSdpoUQKrVdAxklv9GdoAb4Ph9LyOljKvntb_3eCDPTAa17qFVy5RJ369F2_WjFcRM7wHI0bUkHCkNTm-C5WdA9VGk/s320/20170525_103030.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZOOTURg0acpOg33VxZYuUUZCyUpkKZKpfDPI5sjSFAPQngYjTtcQhULKnB_IEj_asHSwtcZfiGRtg-Fy3Zs_C53qFofbFGLT0Mrjx8Wp7zFDhEGhPU_hbetnsTcfJvYhDEanYWyGX0vc/s320/20170727_144023.jpg)
*ESTA ROUPA CONTÉM: SAIA 7 METROS DE RODA COM 16 METROS DE BABADO EM PRETO, CHAPÉU, BLUSINHA DE RENDA*
Comentários
Postar um comentário